Conheça remédios do dia a dia que são proibidos para atletas de ponta
Vida de atleta é difícil. São horas e horas de treino todos os dias, dentro de uma alimentação equilibrada, para manter a saúde do corpo em forma. E mesmo com toda a pressão de competições importantes, como a que eles sofreram ao longo dos últimos dias nos Jogos Olímpicos, a cabeça também precisa ficar bem — pois conseguir um remédio para ela pode ser bem mais difícil do que se imagina.
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Um dos analgésicos mais comuns para a dor de cabeça, que as pessoas normais tomam ao menor sinal do problema, é proibido para os atletas. O medicamento conhecido pelo nome comercial Neosaldina é um composto de dipirona sódica, cloridrato de isometepteno e cafeína.
O grande problema desse medicamento para os atletas é o isometepteno, que age como estimulante e é vetado pelo controle de doping. Substâncias estimulantes, anabolizantes, ou mesmo os diuréticos, que podem mascarar a presença de outros químicos, são expressamente proibidas aos atletas, e o uso delas leva a punições na esfera esportiva.
Eduardo De Rose, médico ligado ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e à Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) estima que apenas 25% dos casos de doping sejam intencionais. Nas outras 75% das vezes, o atleta ingere a substância por engano.
Os atletas precisam tomar muito cuidado com todos os medicamentos a que têm acesso. O Neosaldina é um exemplo emblemático, mas a lista de produtos proibidos inclui outros medicamentos de amplo acesso, como o descongestionante nasal Rinofluimucil, as pílulas anticoncepcionais Micronor e a Mesigyna e os cremes dermatológicos Trofodermin e Novaderme.
E se engana quem pensa que basta ficar de olho na produção dos medicamentos para garantir que ele está “limpo” aos olhos do controle antidoping. Produtos de farmácias de manipulação não são recomendados pelos médicos, pois são feitos em recipientes que podem conter vestígios de substâncias proibidas.
“Isso é uma responsabilidade que tem que vir do atleta, porque o culpado vai ser o atleta”, afirmou De Rose.
Hoje, o COB oferece aos atletas uma cartilha com o nome comercial de medicamentos proibidos. A relação deve ser usada em parceria com o médico pessoal na hora da escolha do tratamento, pois nem todos os médicos conhecem a fundo as restrições.
“Eles medicam corretamente, mas não são especializados nisso”, apontou De Rose.
Mesmo depois de aposentado, o judoca João Derly ainda olha a cartilha antes de tomar um remédio, por força do hábito.
“Cachorro picado por cobra tem medo de linguiça”, brincou.
No início da carreira, Derly ficou seis meses sem lutar depois que um exame detectou que ele tinha tomado um diurético proibido.
“Não tinha orientação, era muito amador”, lembrou o judoca, que já treinava pela Sogipa, clube de Porto Alegre com grande tradição em esportes olímpicos.
“Acho que a grande vantagem de ter acontecido comigo foi o conhecimento”, indicou. Ao longo da carreira, oficialmente encerrada no último mês de junho, Derly não ganhou nenhuma medalha olímpica, mas entrou para a história do judô nacional com os títulos mundiais de 2005 e 2007 em sua categoria.
Pela dificuldade de acesso aos medicamentos, o judoca contou que evitava ao máximo ficar doente. O principal cuidado é básico e pode ser seguido por qualquer um.
“É sempre importante cuidar do sono e da alimentação pra não acarretar na saúde”, recomendou.
Derly vive em Porto Alegre, uma cidade com grandes variações de temperatura, mas não se lembra da última vez que ficou gripado. “O carro é um guarda-roupa, tem para todas as estações”, comparou. “Acabou virando mania”.
Fonte: G1